Sem documentação, estrangeiros não conseguem sair de Tabatinga.
Fronteira não será fechada, diz delegado da Polícia Federal.
Grupo de haitianos que foi pego de surpresa com a nova determinação da PF |
“Chegamos domingo (14). Vamos pedir nosso documento, mesmo que não seja agora. Queremos arrumar emprego aqui e sem documento é mais difícil”, afirma Marlon Coitite, de 32 anos. “Vamos ficar aqui esperando um pouco, não sabemos ainda o que fazer. Não consegui entender qual foi a mudança. Eu gosto muito do Brasil e quero ficar por aqui”, diz Sebastien Pierre Pouline.
Segundo o delegado, muitos não têm sequer passaporte e usam o artifício do refúgio para entrar sem visto. A entrada de haitianos no Brasil só é permitida com o visto emitido no Haiti. “Pode ser que muitos ainda estejam no caminho, porque a viagem é longa e vai demorar até a informação de que os protocolos não serão mais feitos seja repassada a eles.”
“A fiscalização vai aumentar, mas não vamos fechar a fronteira. Haverá um reforço na fronteira seca, porque fiscalizar os rios é muito difícil. Primeiro, vamos dar a eles orientações. Como estamos numa área fronteiriça, o acesso é menos burocrático, mais livre”, diz o delegado.
Se um imigrante tentar pegar a embarcação com destino a Manaus sem a documentação, será barrado. Antes da saída das embarcações no porto, a Polícia Federal faz um check in dos passageiros. “Eles podem tentar a sorte e pegar uma canoa para tentar chegar até Manaus, mas é bem improvável. E se chegarem, não vão conseguir emprego sem a documentação de entrada no país”, diz Rabelo.
Sem crimes
De acordo com o delegado, nenhum haitiano foi preso envolvido com crimes desde a chegada dos primeiros grupos, em fevereiro. “Reforçamos a fiscalização, mas não registramos nada. Eles nunca foram cooptados pelo tráfico e não há nenhum caso de violência envolvendo os haitianos. Vieram aqui para trabalhar mesmo”, afirma. “Talvez por isso a população tenha ajudado bastante, porque não fizeram bagunça.”
Saída do Brasil
A chefe da delegacia de imigração da Polícia Federal em Manaus, Nelbe Freitas, disse que o protocolo recebido pelos haitianos não garante a permanência deles no Brasil. O processo é julgado pelo Conselho Nacional de Refugiados (Conare), do Ministério da Justiça, e caso o pedido de refúgio seja negado, os imigrantes devem sair do país.
“A decisão é publicada em Diário Oficial. A pessoa é, então, localizada pela Polícia Federal e notificada de que precisa deixar o país. Mesmo quem já conseguiu emprego, teria de sair em tese”, afirma Nelbe. “A não ser que alguma empresa esteja interessada na mão de obra desse pessoal e formalize o pedido de visto de trabalho. Caso contrário, precisam retornar ao país de origem e pedir de lá o visto.”